Entrevista con Verônica Ferreira, investigadora y supervisora en el Núcleo de pesquisa de SOS Corpo Instituto feminista para la democracia.


1. Segundo sua experiência, o movimento feminista e demais organizações estão usando as TICs para prevenir e combater a violência contra a mulher? Considera este uso suficiente ou limitado? Que experiências conhece?


Sim. A utilização de tecnologias da informação vem crescendo no movimento feminista e hoje é concebida por muitas organizações do movimento como uma estratégia importante de ação. Por exemplo, é muito significativo o número de campanhas, vídeos e uso da internet pelo movimento. No âmbito nacional, o movimento tem usado as tecnologias da informação como meio de divulgar suas ações de mobilização ou mesmo como instrumento de mobilização. Exemplo disso são as petições on line, instrumento que tem sido muito utilizado por exemplo por nós, da AMB – Articulação de Mulheres Brasileiras (articulação do movimento feminista da qual o SOS CORPO é integrante e membro da Secretaria Executiva Colegiada) para mobilizar rapidamente assinaturas e dar pronta resposta contra ações do Governo. Tem sido um instrumento importante de resistência a definições no Congresso Nacional e do Executivo. Essa semana, por exemplo, mobilizamos uma petição online em defesa da lei Maria da Penha, que vem sendo ameaça por decisões conservadoras no âmbito do judiciário. A internet, sobretudo, é um instrumento de disseminação de informações muito importante e também de articulação com outros sujeitos políticos que utilizamos cotidianamente, tanto o site como o email.


Na nossa ação institucional, priorizamos a disseminação de nossas informações, textos, artigos, entrevistas para a mídia alternativa, como forma de fortalecer o campo político que vem defendendo a democratização da comunicação no País. Um exemplo importante da utilização das TICs pelo movimento é a criação do Portal Mídia Livre Feminista.


2. Utiliza as TICs no combate à violência contra a mulher em seu trabalho?


Sim. Em nosso Programa Institucional Direito a Uma Vida Sem Violência, temos uma linha de ação dedicada à ação na mídia, que inclui a atualização de nosso site, a produção de programas de rádio sobre violência contra as mulheres e a intervenção na mídia alternativa e comercial (rádio e TV). Este ano, estamos realizando uma Campanha pelo Fim da Violência contra as Mulheres que prevê a disseminação, além de materiais impressos, de programas e spots de rádio e vinhetas eletrônicas e o uso da internet para disseminar informações (youtube, email, site, newsletter eletrônica etc.)


a) Quais?


(x) TV


(x) Rádio


(x) Internet


( ) Celular


(x) Outras – especificar:


Vinhetas eletrônicas, para difusão por email.


b) De que maneira são utilizadas?


(x) Programas de capacitação


( ) Serviços de denúncia


(x) Campanhas


(x) Mobilizações


(x) Outras – especificar:


Usamos nosso site na internet como meio de mobilização e também como instrumento de disseminação de informações e conhecimento produzido pelo SOS CORPO.


c) Comente exemplos do uso de TICs em seu trabalho (exemplos, efetividade, alcance, dificuldades e outros aspectos que considerar relevantes).


De 2005 a 2006, mantivemos um site intitulado Observatório da Violência contra as Mulheres, como instrumento de divulgação das atividades realizadas por este projeto e também como forma de disseminar informação crítica sobre a violência contra as mulheres no Estado. Em 2007, quando criamos um programa institucional dedicado ao enfrentamento da violência contra as mulheres, estas informações passaram a ser parte do site institucional (www.soscorpo.org.br) A criação de um site foi uma ação de excelentes resultados, pois permitiu que o SOS CORPO se tornasse uma referência, isto é, uma fonte importante de informações e pensamento crítico sobre a violência contra as mulheres no país. Permitiu nos colocar em contato com outras organizações que atuam na questão. E permitiu que a imprensa local e nacional também qualificasse sua abordagem do problema, uma vez que o acesso rápido e atualizado à informação qualificada por jornalistas,levou a uma abordagem diferenciada nas matérias, em geral eivadas de sensasionalismo. Isto foi um resultado muito positivo destas ações.


Em 2008, produzimos três programas de rádio para disseminação nas rádios comunitárias e mídia comercal (podemos enviar cópias destes materiais). Este ano, estamos lançando uma Campanha pelo Fim da Violência contra as Mulheres, intitulada “Democracia no Mundo e em Nossas Vidas”. Com estamos campanha, buscamos criar indignação na sociedade em relação à violência contra as mulheres, enfrentar os valores patriarcais, racistas e classistas que produzem e reproduzem a violência contra as mulheres e contribuir, assim, para a desnaturalização da violncia entre a sociedade. Escolhemos trabalhar com o conceito de “democracia” por entendermos que a luta pelo fim da violência contra as mulheres é parte da luta pela democratização das relações sociais no país, em particular das relações entre homens e mulheres, dentro e fora de casa, em todos os espaços da vida social e em vários contextos.


Os materiais da Campanha incluem a produção de programas de rádio e vinhetas eletrônicas/VTs. A primeira vinheta produzida pela campanha, por exemplo, está sendo disseminada nas Tvs que se encontram nas casas lotéricas do Recife e também nos shoppings da cidade.


Mais informações e os materiais desta campanha encontram-se em nosso site.


3. Quais recomendações faria ao governo brasileiro sobre a questão da violência contra mulheres e as TICs?


Nós defendemos que o governo brasileiro tem um papel fundamental na construção de uma comunicação ética na abordagem da violência contra as mulheres e que contribua para sua desnaturalização, para a disseminação de informações que possam apoiar as mulheres que se encontram nessa situação, na difusão de materiais de sensibilização etc.


Entendemos que isto, entretanto, só será possível se este governo enfrentar a fundo o problema da democratização da comunicação no país, de maneira que esta possa ser um instrumento para a construção de pensamento crítico entre a população e de uma cultura baseada nos direitos humanos, e não um instrumento da dominação e da reprodução das desigualdades e desvalores.


Defendemos, portanto, e estamos efetivamente tomando parte, a democratização da comunicação no País, conforme está expresso na Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político e pelos Movimentos Sociais (“o direito à comunicação é um dos pilares centrais de uma sociedade democrática”) que hoje lutam pela realização da Conferência Nacional de Comunicação.


A comunicação hegemônica hoje no Brasil, isto é, os meios de comunicação mais poderosos, estão dominados pela da elite econômica e política, conservadora, patriarcal e racista, é um dos instrumentos da dominação e da violência simbólica contra mulheres, pobres, negros/as e homossexuais no País, como vemos cotidianamente.


Defendemos o combate à concentração da propriedade da comunicação no país nas mãos destes setores; o fortalecimento da mídia alternativa; a criação de um sistema público de comunicação; a criação de centrais públicas de comunicação; o controle social do sistema de comunicação; o fortalecimento de Tvs e rádios comunitárias; a instituição do direito de antena; a criação de mecanismos que garantam a diversidade e a pluralidade de conteúdos (vide Plataforma dos Movimentos Sociais para a Reforma do Sistema Político).


Propostas e diretrizes feministas para a comunicação estão sendo construídas por um grupo de organizações feministas, como resultado do seminário nacional mulher e mídia, que foi realizado pelo Instituto Patrícia Galvão em abril deste ano, em São Paulo, e reuniu várias organizações e movimentos de mulheres. Estas propostas serão divulgadas no portal mulher e mídia e irão subsidiar as organizações feministas. Em Pernambuco, nós do SOS CORPO estamos construindo junto com organizações feministas e de mulheres articuladas no Fórum de Mulheres de Pernambuco propostas do movimento feminista para nossa incidência no processo da conferência de comunicação.

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