“A imensa exclusão social no Brasil tem suas raízes no racismo e no sexismo e que é o enfrentamento destas marcas, sobretudo da dupla marca da exclusão, ou seja, ser mulher negra, que devem ser concentrados os esforços de reflexão e ação”. A afirmação é da Ministra Nilcéa Freire, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, na mesa de abertura do Encontro Nacional de Núcleos e Grupos de Pesquisa “Pensando Gênero e Ciências”, ocorrido em Brasília nos dias 29, 30 e 31 de março de 2006. A Ministra ressaltou que o encontro, “é a manifestação do compromisso com o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, resultado da Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, em que há um item relativo a Ciência e Tecnologia que inclui também ações para igualdade na respresentação dos sexos nas carreiras cieníficas”.


Os objetivos centrais do evento foram mapear e analisar o campo de pesquisas e estudos sobre gênero e ciências no Brasil; estimular e fortalecer a produção de pesquisas e estudos sobre gênero e ciências; estabelecer medidas e ações que contribuam para a promoção das mulheres no campo das ciências e nas carreiras acadêmicas e fortalecer as redes – temáticas, regionais e nacionais – de núcleos e grupos de pesquisa do campo de estudos das relações de gênero, mulheres e feminismos. Promovido pela Presidência da República, pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, pelo Ministérios da Ciência e Tecnologia, Ministério da Educação e pelo Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (UNIFEM), o evento contou com a participação de representantes de núcleos e grupos de pesquisa do campo de estudos das relações de gênero, mulheres e feminismos das universidades; pesquisadoras e pesquisadores de todas as áreas de produção do conhecimento interessados na temática: gênero e ciências; correspondentes de revistas de universidades e instituições de pesquisa que tenham como foco a circulação da produção no campo dos estudos das relações de gênero, mulheres e feminismos, redes e associações científicas que trabalham no campo de estudos das relações de gênero, mulheres e feminismos, além de representantes de agências de fomento à pesquisa.


Na mesa de debates sobre “Gênero e ciências no contexto nacional” Estela Aquino, professora e pesquisadora da Universidade Federal da Bahia, apresentou um interessante panorama sobre o cenário nacional de C&T e os obstáculos e desafios para superação da desigualdade de gênero e o enfrentamento da minoria numérica das mulheres nas carreiras científicas, sobretudo naquelas consideradas ciências “duras”, engenharias, física e matemática. Estela apontou a gravidade do que chama de chama de segregação vertical: “a maioria das mulheres, mesmo tendo passado pelas etapas de graduação, pós-graduação e pesquisa não conseguem alcançar os postos de tomada de decisão. O topo da carreira para elas é sempre em posições inferiores ao topo da carreira dos homens”. Segundo ela, são muitos e grandes os obstáculos para as mulheres chegarem às posições de destaque na hierarquia e Estela identifica no peso da dupla jornada de trabalho, nas responsabilidades com a maternidade (que não são compartilhadas com os maridos e companheiros) alguns dos maiores obstáculos. “Isso também reflete na diferença de remuneração entre mulheres e homens, completando um ciclo em que as mulheres encontram-se em permanente desvantagem” afirma.


Na mesma mesa, Elisa Saitovitch do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, reconheceu que houve avanços inegáveis no que diz respeito à presença da mulher nos estudos e carreiras científicas, mas lembrou que “é absolutamente necessário que haja ações afirmativas pois foram estas ações que propiciaram a presença de meninas nas competições, concursos e feiras de ciências”. Elisa lembrou que as mulheres somente foram admitidas na Universidade, de fato, no Brasil em 1912 e ainda hoje, “é preciso sermos audaciosas para superar os padrões de representação de gênero. E há de se ter força e coragem para enfrentar o descrédito das mulheres no campo da ciência, em geral as mulheres tem que trabalhar mais e melhor do que os homens para terem seu trabalho reconhecido - e às vezes nem assim”.


No debate que se seguiu às apresentações, foram abordadas questões como a importância do papel da escola e das/os professoras/es nas opções de meninas pelas carreiras científicas – o que torna imprescindível sensibilizar professores/as do ensino básico como melhorar as condições de ensino de um modo geral.


Outro tema candente foi a maternidade, e a necesidade de se investir numa mudança cultural para que os homens que os homens se responsabilizem mais pela criação dos filhos e filhas.


Foi ressaltado também que as mulheres, todas as mulheres, só conseguem sair para o mundo do trabalho e da ascensão profissional quando apoiadas por outras mulheres, seja a mãe, a avó ou a empregada doméstica. Trata-se de uma verdadeira rede social de mulheres, o que é bom num certo ponto, mas por outro reproduz a pervesidade com as mulheres que exime os homens da “economia do cuidado”. Estas redes por sua vez reproduzem situações de exclusão social em que sabidamente são mulheres negras a maioria das trabalhadoras domésticas no Brasil. A platéia enfatizou que há de se romper com o espeírito escravagista ainda vigente na sociedade brasileira.


Além das mesas, houve grupos de trabalho que debateram e formularam propostas de políticas para a Secretaria de Políticas da Mulher no campo da ciência e da tecnologia - que foram debatidas e aprovadas no dia seguinte.


As propostas se concetraram nos seguintes pontos:


- Dados: proposta de produção e divulgação de informações estatísticas com dados desagregados por sexo e raça.


- Educação científicia e de gênero: necessidade de se promover a desconstrução dos esterótipos de gênero.


- Representação nos comitês científicos, agências e sociedades científicas: democratizar os mecanismos de decisão e controle sobre os recursos para garantir a proporcionalidade entre os sexos.


- Publicações: proposta de aumentar a capacidade e prover recursos e distribuição de revistas e publicações sobre estudos feminsitas e de gênero no Brasil. Reavaliar os critérios de excelência para inclusão desta área de estudos.


- Circulação de informações e democratização do conheciemnto: prover os acervos de bibliotecas de um conjunto básico de publicações sobre gênero e feminismo. Identificar experiências exitosas no campo. Promover novos materiais didáticos e pedagógicos. Montar uma rede integrande ONGs e centros acadêmicos.


- Financiamentos: editais e agências de fomento devem incentivar a criação de programas de gênero e raça.


- Ações afirmativas: para a equidade étnica e racial além da proporcionalidade entre os sexos.


- Institucionalização e fortalecimento de núcleos e grupos de pesquisa: estimular os núcleos já existentes e consolidar os núcleos emergentes.

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