Illustration by Natalia Vargas for GenderIT

Retalhos iniciais

Que tecnologias constroem comunidade? Que tecnologias servem à vida, ao bem viver e à preservação dos diferentes modos de vida que coabitam o planeta? Neste texto, costuramos uma trama de conversas a partir do encontro entre experiências de vida de mulheres feministas que pensam e produzem tecnologias - dentro e fora do mundo digital -  como forma de fortalecer a vida coletiva e a autonomia das mulheres.

A partir do diálogo entre os direitos digitais e os feminismos populares e da experiência do trabalho conjunto do Intervozes com o Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Nordeste (MMTR-NE) do Brasil, discutimos o que são tecnologias, quem as desenvolve e quais são as tecnologias aliadas na promoção da justiça socioambiental, a partir de uma perspectiva feminista.

Segundo Verônica Santana, agricultora e coordenadora do MMTR-SE e uma das autoras deste texto, as tecnologias que constroem comunidades e preservam a vida são aquelas que nós mulheres somos capazes de construir, programar e reprogramar autonomamente, são replicáveis e respondem às demandas coletivas, comunitárias e territoriais.

Para pensar esses temas, partimos do fuxico - uma tecnologia que envolve a costura utilizando sobras de tecido para formar pequenas flores que são depois costuradas umas às outras - como uma sabedoria ancestral muito utilizada por mulheres brasileiras em seu fazer, em sua comunicação e em sua luta cotidiana[1].

Fuxico

Nas diferentes regiões do Brasil, mulheres utilizam retalhos de tecidos para costurar roupas e acessórios, diversos tipos de enfeites que vão adornar suas casas, as casas de vizinhas, de amigas e de parentes, e também estandartes, faixas e outros objetos estéticos que se tornam parte de sua luta política. O aproveitamento dos retalhos têm diversos motivos e significados: é uma tecnologia que passa de geração a geração, que se faz por meio das histórias carregadas em cada pedaço de tecido, construindo memórias e abrindo caminhos para novas histórias, é uma estratégia de comunicação e de luta, uma forma de arte e muitas vezes também fonte de renda.

No Nordeste do Brasil, o fuxico é um tipo de tecnologia popular-ancestral feminina bastante presente. Nas calçadas, alpendres e terreiros, é comum ver um grupo de mulheres reunidas, em conversa, em buchicho, cada uma costurando um retalho colorido - sobras de costura - e transformando em botão de flor. Cada pedacinho de flor, junto a outro e mais outro, em combinações estéticas diversas e imunes à automação ou à repetição, viram capas de almofada, colchas de cama, cortinas, enfeites de mesa, paninhos que cobrem utensílios e eletrodomésticos como a geladeira ou a televisão, bolsas, casacos, blusas, bonecas.

Esse fazer coletivo faz do fuxico uma estratégia de comunicação e de luta política que dá novos significados ao termo que, de acordo com o dicionário da língua portuguesa, é sinônimo de "comentário divulgado com base em suposições e quase sempre desleal", "futrico, intriga, mexerico", "bisbilhotice" ou ainda "cerzidura ou remendo malfeito" (Houaiss, n.p.).

Em sua escrevivência - termo cunhado pela escritora brasileira Conceição Evaristo para falar de uma escrita a partir da vivência da coletividade (Duarte; Nunes, 2020) - na dissertação de mestrado junto a mulheres do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Nordeste (MMTR-NE), a pesquisadora Gabriela Monteiro sintetiza:

No Nordeste brasileiro, o fuxico é considerado “conversa de mulher”. No senso comum (leia-se no imaginário misógino construído a partir do pensamento branco, elitista, hétero-falocêntrico), uma mulher fuxiqueira é uma mulher considerada fofoqueira, intrometida e assanhada. Uma mulher malcomportada. A partir de uma perspectiva feminista, pode-se subverter esse sentido para perceber como o fuxico é imprescindível enquanto tática de partilha de informação, confidência, desobediência epistêmica. Além disso, é também uma técnica de costurar sobras de tecido em pequenos botões de flor, que se unem para compor peças diversas, um tipo de artesanato muito popular no Nordeste rural. Também pela reunião das mulheres, para realizar a costura de retalhos, envolver o diálogo entre elas, esse artesanato foi intitulado de fuxico. Assim, o fuxico simboliza a aproximação; é um método de acercamento e promoção de aliança entre as mulheres. É aproveitamento do que “sobra”, do que seria inútil. É conversa de mulheres na cozinha, no quintal, dos lugares “desimportantes”, desprovidos da legitimação patriarcal do que seriam espaços e conteúdos sérios e respeitáveis. É pura criatividade, exercício coletivo feito com nossas próprias vozes e mãos na construção e consolidação de vínculos e belezas. É um método histórico de resistência e produção de informação e arte das mulheres rurais nordestinas (Monteiro Araújo, 2019: 39).

Em nossas conversas para este texto, concluímos que o fuxico, assim como as costuras com retalhos, "bebem nas fontes de outras mulheres e de pessoas diversas para fuxicar", como disse Verônica. Uma dessas fontes são os saberes das mulheres de gerações anteriores, que ensinam suas filhas e netas a costurar, ou das mulheres amigas, conhecidas e vizinhas que ensinam umas às outras nas rodas de conversa e nos quintais.

Outras fontes são os próprios retalhos de tecidos, que já foram algum dia a roupa de alguém, a bainha de uma calça, um vestido de noiva desmanchado, a cortina da sala onde crianças brincavam, a toalha da mesa de cozinha onde os adultos conversavam, ou mesmo restos de pano jogados no lixo por uma fábrica de roupas. Nas palavras de Olívia, quando olha para a colcha de retalhos que sua mãe fez para presenteá-la, os pedaços de flor que ela mais gosta são os que foram feitos com os vestidos que pertenceram à sua avó. O tecido assim, reaproveitado, carrega em si memórias, histórias.

Iara também pensa na costura como algo que conecta pessoas e histórias, "em um balanço entre passado e presente e em tantas direções que é impossível o mais moderno dos radares definir a geolocalização", como as redes de dormir tecidas por sua avó e sua tia mais velha, indígenas Potyguar.

Involuntariamente, portanto, várias mãos contribuem para a costura dos retalhos e das redes, para o fuxico. Afinal, pra gente chegar até aqui, quantas vieram antes de nós?

Este texto parte também do fuxico entre mulheres de diferentes origens sociais, étnico-raciais e territórios e trajetórias diversas para uma conversa que questiona: Quais tecnologias constroem comunidade? Que tecnologias servem à vida e à preservação dos tantos modos de vida que coabitam o planeta?

Tecnologias

Acreditamos que toda tecnologia é socialmente determinada. Ou seja, o contexto social em que ela é produzida e quem a produz deixam marcas e uma intenção em sua composição. A tecnologia não é e nunca foi neutra. A sua criação e seu uso implica em tomadas de decisões e em valores. E uma vez que compreendemos isso, nos tornamos responsáveis pelas escolhas que fazemos (MMTR-NE, 2018).

Nas construções e disputas de narrativas, as mulheres rurais se valem daquilo que também são suas “espertidices”[2] para reafirmação de suas identidades nordestinas, negras e  de seus saberes ancestrais. Segundo Gabriela Monteiro (2019), assumir o próprio ponto de partida é um exercício urgente e primário para “desnaturalizar as farsas das simetrias de poder e manipulação e distorção das imagens produzidas externamente”. Falar de tecnologia em territórios rurais é desafiar a ideia-comum, o estigma que hierarquiza e localiza tais territórios num pólo oposto ao do desenvolvimento técnico-científico e o aprisiona em imagens de pobreza e/ou atraso. Nesse contexto, as tecnologias ancestrais e sociais são invisibilizadas e substituídas pela imagem do suposto avanço técnico do digital, automatizado e mesmo artificial.

A partir do território rural do Nordeste do Brasil, consideramos tecnologias sociais de comunicação: cordéis[3], estandartes, lambe-lambes, poemas, poesias, cantigas e canções produzidas coletiva ou individualmente. Impossível pensar uma atividade do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais sem as canções de Nazaré Flor[4], uma das grandes referências poéticas de mulher rural. Tais tecnologias têm a ver com um “fazer” cheio de cores como uso das chitas (tecidos estampados característicos) e elementos naturais da representação dos territórios na luta pela preservação, como coco babaçu. Tudo isso compõe nossas identidades visuais.

Os tambores também são valiosas tecnologias de comunicação. Seja na celebração, na animação ou na conexão com os orixás, esse instrumento tem o poder de nos transportar a lugares e sensações. As próprias dinâmicas e técnicas produzidas e utilizadas nas atividades presenciais onde o nosso corpo e suas expressões é ele próprio elemento da comunicação e, agora, suas adaptações para o ambiente virtual, dialogam com a mística do ser mulher no rural que ocupa e pensa seus territórios.

Apesar da força e diversidade de tais tecnologias de comunicação, há um apagamento constante. As mulheres têm enfrentado limitações e falta de apoio, por exemplo, para transformar suas escritas em livros como forma de valorização e perpetuação de suas histórias.

A produção de programas de rádios pelas mulheres, boletins e pequenos jornais impressos são além de fazeres comunicativos, espaços de formação. Ainda, as feiras livres são espaços de diálogos permanentes com outros grupos sobre os modos de vida e nossas produções, mas também encontro com as companheiras e têm sido vitais para o fortalecimento organizacional das lutas das mulheres.

Todas essas tecnologias nos levam a viver num outro tempo. É um tempo e um espaço distinto do virtual: o tempo da vida real. É o tempo da natureza, do plantar, do cuidar, do maturar e só depois colher. É o tempo do espaço do encontro, da feira marcando o passar da semana, é o tempo do cotidiano das mulheres. Alinhavar[5] o tempo do virtual com a vida real ou “offline” nos sugere um desacelerar necessário na construção do bem viver.

Esse conjunto de tecnologias independentes, autônomas, auto programadas e reprogramadas coletivamente têm sido utilizadas pelas mulheres e têm contribuído para a construção e o reforço do feminismo rural no Nordeste do Brasil. Podem, assim, inspirar a busca pela construção de tecnologias digitais geradoras de bem viver.

(Des)envolvimento tecnológico

Nas cosmovisões de povos de África e de povos indígenas do Brasil e da América Latina, a unidade do mundo, que conhecemos como terra, é desafiada pelo sentir-pensar de vários mundos que coexistem, contrariando a cosmovisão euro-cristã, como sintetiza Nêgo Bispo (2023). A simbologia sankofa[6] nos convida a pensar passado, presente e futuro não alinhados em fila um de costas pro outro mas alinhavados, como os punhos de uma rede de deitar ou como os pontos para formar a flor de fuxico, tecendo isso que chamamos de vida. Pensar, assim, a coexistência de tecnologias de comunicação ancestrais e modos de vida não predatórios, diversos, populares, coletivos e imaginar essa confluência entre tecnologias sociais populares com códigos binários e seus suportes físicos de datificação capazes de criar redes entre mundos distintos, é um exercício que nossos tempos nos desafiam a imaginar e construir.

A internet, quando surgiu, foi considerada por algumas pessoas e correntes de pensamento como importante ferramenta para potencializar as vozes das comunidades e indivíduos, aumentando os meios de contar suas histórias e denunciar as violações do Estado e do capital privado, diante de um cenário em que as mídias de massa, concentradas nas mãos de poucos grupos empresariais, dotados de interesses econômicos e políticos, excluía muitas dessas vozes (Intervozes, 2023).

O desenvolvimento tecnológico, no entanto, não perseguiu a busca pelo bem comum. Ao contrário, estruturadas pelo e para o “mundo” capitalista, controladas e privatizadas pelos países do Norte Global, as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) seguiram a mesma lógica de concentração das mídias de massa e caminharam para o predomínio de grandes plataformas digitais que possuem um modelo de negócio que se vale dos dados pessoais para assegurar a atenção e lucrar com polêmicas, extremismos, desinformação e discurso de ódio, tendo mulheres entre seus principais alvos. Assim, o uso das TICs e da internet abre uma janela para grandes desafios em torno da autonomia dos indivíduos e dos povos, da vigilância de grupos sociais e territórios por parte de governos e empresas e das desigualdades de gênero, raça e classe social.

Além disso, as tecnologias digitais introduzem no cotidiano de comunidades rurais e tradicionais práticas políticas e estéticas baseadas no individualismo, na aceleração, na disputa de atenção, em oposição à lógica da circularidade, do estar em roda, da presença (sem atenção dividida), do fazer junto, características de tecnologias como o fuxico.

Para as mulheres, o isolamento e o individualismo neoliberal aprofundado e sustentado pelas tecnologias digitais (e pelo capitalismo de dados ou de plataformas), que conectam inúmeras informações e pessoas, mas também diminuem o encontro presencial, aprofundam as violências e opressões de matriz interseccional. Não é à toa que as mulheres e meninas pretas cis e trans estão entre as maiores vítimas de violência de gênero online.

Além disso, o isolamento - impulsionado pelas plataformas digitais - é porta de entrada da violência doméstica sendo esta o terceiro maior tipo de violência no Brasil. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) demonstraram que uma em cada quatro mulheres acima de 16 anos sofreu algum tipo de violência no último ano no Brasil, durante a pandemia de Covid-19. A pesquisa demonstra ainda que as mulheres pretas e pardas somam 52% das vítimas, enquanto as brancas são 23%.

O isolamento enfraquece a vivência coletiva que, para os movimentos de mulheres, é fonte de força e vida. “As mulheres são como as águas, crescem quando se juntam”, é um dos dizeres-lema das lutas das mulheres em territórios tradicionais do Brasil.

Além disso, a arquitetura, a infraestrutura, a governança e os interesses econômicos que estruturam o modelo de negócios das plataformas digitais aprofundam dia a dia os conflitos em torno do bem comum e aceleram um modelo de extrativismo e de desenvolvimento econômico que não tem harmonia com o modo de vida das comunidades tradicionais e que desafia a existência de tecnologias sociais de reprodução da vida, baseadas em lógicas gregárias, solidárias e comprometidas com o bem viver.

A ideia de desenvolvimento tecnológico predominante, aliada a projetos de desenvolvimentismo econômico, é contra também o que chamamos de justiça socioambiental.  Há muito as comunidades tradicionais brasileiras e latinoamericanas sabem e repetem que o dito desenvolvimento do agronegócio, da mineração, dos cabos de fibra, dos drones, dos satélites que “fornecem” sinal de internet, invadindo e dominando os territórios, e as chamadas energias “limpas” ou renováveis, não estão alinhavadas com a vida das mulheres e de seus territórios.

Esse modelo de desenvolvimento também produz aceleradamente artefatos eletrônicos cada vez mais descartáveis e em menor tempo, super explorando a terra, as comunidades que nelas vivem, trabalhadoras e trabalhadores, incluindo crianças, em busca de metais para essa produção que é insustentável. É a lógica oposta do fuxico como tecnologia baseada no reaproveitamento, no saber partilhado, no respeito ao tempo da terra e dos seres.

Aqui podemos costurar algumas perguntas: quem desenvolve essas tecnologias? Que territórios são explorados para que elas possam existir? Quem se beneficia e lucra com elas? Quem paga o preço pelo uso ou instalação de uma tecnologia?

Tecnologias e conflitos socioambientais

Sempre que se precisa desenvolver uma tecnologia ou instalar um megaempreendimento em um território, ouvimos que isso é uma "necessidade urgente para a humanidade”, parte da ideia de progresso e de desenvolvimento econômico. Mesmo políticos e partidos que se definem como progressistas ou de esquerda têm adotado historicamente esse modelo como o único possível, como temos visto em vários países da América Latina e do Caribe, incluindo o Brasil. Essas tecnologias e os rumos do dito desenvolvimento têm sido ditados por homens, brancos e do Norte Global, com o objetivo principal de dar lucro a poucas corporações globais e multinacionais.

O que vivenciamos a partir dos nossos territórios é que a maioria das tecnologias pensadas pelo mercado sempre miram os territórios, comunidades tradicionais, indígenas ou nos maretórios[7], violando os acordos ancestrais de com-vivência com acirramento das violências de gênero, racismo ambiental e ecocídio[8]. As mulheres são sempre as principais impactadas ao sentirem seus espaços de produção de alimentos e reprodução da vida sendo destruídos. Nesses conflitos, as mulheres têm também papel protagonista nas lutas e resistências e na construção de alternativas radicais.

A Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, desde 2022, tem como lema "Mulheres em defesa do território: Borborema agroecológica não é lugar de parques eólicos". O debate coloca em xeque o modelo de energia eólica que começa a avançar na região da Borborema, no estado da Paraíba, região Nordeste do Brasil, assim como em vários territórios do país e da América Latina, com a implantação de parques que são vendidos como produtores de energia limpa, mas se apropriam da terra e do território rural, impactando profundamente a vida das comunidades e ameaçando a produção da agricultura familiar e agroecológica, além de provocar uma série de distúrbios no meio ambiente, na vida dos animais e plantas e na saúde física e mental das pessoas que vivem nessas regiões.

No Ceará, outro estado da região Nordeste, a expansão da energia eólica tem se dado dentro do mar, no modelo offshore. As pesquisadoras e ativistas do Instituto Terramar Cristiane Faustino, Soraya Vanini Tupinambá e Elena Meirelles classificaram os impactos decorrentes desses megaempreendimentos em quatro grandes categorias: perdas territoriais e socioculturais; agravos à vida doméstica e comunitária; danos à saúde e ameaças à integridade física; e danos aos ecossistemas.

Os danos e riscos socioambientais como sempre recaem sobre as populações cujas vozes são historicamente silenciadas na democracia e cidadania brasileiras, como os povos indígenas, quilombolas, comunidades pesqueiras, agricultoras camponesas e urbanas periféricas negras. Não é à toa que o Brasil é reconhecido pelas violências contra comunidades locais, povos inteiros e ambientalistas, sendo o próprio Estado, na maioria das vezes, agente direto, indireto (parcerias), nesses conflitos, seja por ação e/ou omissão (Terramar, 2023: 10).

As mulheres rurais e de territórios pesqueiros têm se posicionado contra esse modelo centralizado de transição energética que não discute e desconsidera as dinâmicas locais, não respeita o direito à consulta prévia, livre e informada dos povos e comunidades tradicionais como determina a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e nem o direito ao acesso à informação ambiental, previsto no Acordo de Escazú (CEPAL, 2018). As mulheres não são - a priori - contra tais tecnologias, mas contra os modelos predatórios e as violações dos nossos corpos e territórios.

É possível fuxicar no digital?

A pandemia da Covid-19 mexeu com uma das principais formas da luta feminista pela perspectiva que estamos trabalhando: o encontro presencial, que permite o fuxico, a troca de informações e de afetos, a luta a partir do chão que a gente pisa. Apesar de todas as contradições já apontadas sobre o impacto do digital nas vidas, corpos e territórios, em um cenário de isolamento social como forma de preservar vidas durante a pandemia, o digital se tornou ponto de fuxico no desenrolar do projeto Territórios Livres, Tecnologias Livres. A iniciativa teve como objetivo, em sua primeira etapa, produzir um mapeamento coletivo do acesso, usos e concepções sobre a internet e as Tecnologias da Informação e Comunicação por comunidades quilombolas e rurais do Nordeste brasileiro. Para essa pesquisa, foram ouvidas 274 famílias de 33 comunidades rurais e quilombolas dos nove estados do Nordeste brasileiro.

O mapeamento, feito por pesquisadoras-ativistas de seis territórios quilombolas e rurais, foi precedido de uma formação/sensibilização que contou com seis rodas de conversas online, das quais participaram 40 mulheres das 33 comunidades envolvidas no projeto. Os temas abordados foram: experiências e metodologias relacionadas a mapeamentos, territórios e internet; metodologias populares em tempos de pandemia; redes comunitárias de internet: o que são e como é possível construí-las?; entre o Ancestral e o Digital: o que queremos ou não transformar com a tecnologia; políticas públicas de acesso às TICs e vídeo como prova de violação de direitos; e quais modelos de tecnologia e internet são possíveis para as mulheres e a autodeterminação dos povos tradicionais.

Muitas das ideias apresentadas neste texto começaram a ser rascunhadas nesses encontros online, a partir das costuras das vozes de todas as mulheres que participaram e seguem participando do projeto. As rodas digitais apresentaram uma série de desafios, a começar pelo acesso à internet, que é ausente ou precário em territórios quilombolas e rurais, como mostram os resultados da pesquisa (Intervozes, 2022). Para minimizar a lógica do digital, que impõe seus tempos e suas formas de trabalho, tivemos que pensar em alguns remendos: reunir pequenos grupos de mulheres em um local com acesso à internet, mesmo que tivessem de se deslocar de seus territórios, iniciar e terminar as rodas de conversa com místicas semelhantes às que as mulheres rurais fazem em seus encontros presenciais, deixar um tempo para conversas livres e fazer relatorias gráficas dos temas debatidos. Esse processo foi sistematizado junto a outras iniciativas populares de formação durante a pandemia (Salvetti, 2022).

O mapeamento Territórios Livres, Tecnologias Livres mostra o quanto nosso país é desigual no que diz respeito ao acesso à internet. A muitas mulheres resta caçar o sinal como outrora buscavam olho d’água, com lata d’água na cabeça para matar a sede, cozinhar e lavar roupa. Resta dividir a conta altíssima do sinal de internet com as vizinhas. Resta contentar-se com a oscilação de sinal, sempre à mercê da chuva ou dos ventos. Resta botar os filhos e netos de todo mundo na mesma sala de casa, revezando celular para as aulas remotas durante a pandemia e vigilantes na torcida para que o limite de dados do plano pré-pago não acabe antes da aula. Mas isso tudo, dividir, inventar, reprogramar a partir da negação, costurar e recriar com o que seria descartado, remendar e dar novo sentido à própria ideia de “falta”,  a gente tá acostumada a fazer. Acontece que queremos mais.

De fuxico em fuxico, um bordado-manifesto

Numa das rodas de conversa do Territórios Livres, Tecnologias Livres em que a gente discutia sobre redes comunitárias, uma pesquisadora-ativista do MMTR lembrou Margarida Maria Alves, trabalhadora rural, sindicalista e defensora dos direitos humanos assassinada em 1983: "medo nós tem, mas não usa". Seguimos, então, destemidas empunhando nossas próprias redes, fuxicando tecnologias digitais, sociais e ancestrais, teimando contra a ordem do heterocispatriarcado. É em roda, fuxicando, que podemos aprender umas com as outras e construir um mundo com justiça socioambiental e bem viver. Por isso caminhamos pra finalizar essa colcha de retalhos em forma de texto assim como iniciamos, com as palavras de Verônica Santana, em primeira pessoa.

É na roda, no círculo, que nós mulheres nos fortalecemos, é na contação das nossas histórias, no poder da fala, da troca dos nossos conhecimentos e saberes ancestrais que  valorizamos as nossas existências e resistências, é na leitura coletiva sobre a compreensão das artimanhas patriarcais e machistas que muitas das vezes passam despercebidas no nosso cotidiano. A roda como espaço seguro e acolhedor, confortável para que todas se olhem nos olhos, muitas vezes se tornando um espaço de terapia, onde costumamos dizer “precisamos trazer nosso espírito pra junto do nosso corpo” (coisa cada vez mais difícil com os celulares disputando nossa atenção), como escutas seguras que precisam ser acolhidas com afeto e solidariedade. Esse é um instrumento pedagógico importante para estimular o aprender com e a partir da outra. Estar em círculo é uma sabedoria ancestral. O círculo também pode representar uma dança cultural ou ancestral.

Outra dimensão é a da ocupação dos espaços de participação política. É comum ouvirmos das mulheres quando ocupam espaços de representação na esfera pública a frase “minha vida é no meio do mundo”, o mundo como conquista de possibilidade de conexão de histórias de superação de opressões, conexão de sonhos, das utopias possíveis de muita partilha e de colaboração. Poder imaginar coletivamente um outro mundo onde as mulheres e seus afazeres e saberes são protagonistas pela sustentação da vida.

A mística também tem papel fundamental nessa recriação, de nos transportar a dimensões do sentir coletivo e ascender um “esperançar” possível.

As costuras que criamos coletivamente não seriam possíveis sem esse encontro, sem se emocionar, sem receber um afeto ou olhar, sem a presença desse corpo que se manifesta, que fala e necessita estar presente.

No rural, nossas relações são de construção coletiva ou comunitárias, nos cuidados, nas práticas de saúde, das trocas de serviços, troca de sementes, na realização de serviços comunitários, quando estamos impossibilitadas de realizar algum serviço, ou nas ações de solidariedade que torna a vida em comunidade possível.

No fuxico, é preciso unir um a um as partes para ganhar forma e beleza, depois costurá-las para formar a peça que imaginamos. Nas conexões das mulheres é preciso juntar e costurar. Semelhante ao fuxico do artesanato, para nós mulheres costurar é parte da criatividade, do repensar as dinâmicas e experimentar novos formatos e sempre buscar modelo novo, diferente, que venha encantar outros olhares acostumados ao mesmo formato. É preciso nos ouvir e sentir.

Esses têm sido campos de atuação de minha formação enquanto mulher negra, nordestina, agricultora e auto organizada, e de onde eu  - Verônica - tenho buscado aprender a lidar com as mídias e redes sociais, reconhecendo esse espaço como ferramentas importantes para ampliação das nossas vozes e central na disputa de narrativas que no nosso entendimento constroem e fortalecem nossas vidas e contribuem para ampliam nossas visões de mundo numa perspectiva feminista, antirracista, anticapitalista e popular, a partir dos nossos territórios de re-existência.

É verdade  que a pandemia da Covid-19 despertou uma urgência para acesso à internet e para a inclusão digital, tanto para fortalecimento da luta das mulheres como para o próprio enfrentamento da pandemia. Também é verdade que muitas mulheres, principalmente mais jovens, se conectaram aos movimentos feministas pela internet, e que essa foi a via de denúncia de muitos abusos e violações, muitas vezes em tempo real. É comum ouvir as companheiras relatarem as estratégias que utilizam para se conectar, tirando um tempo dos seus afazeres para buscar sinal de telefone, já que essa é a forma mais comum no meio rural, ou buscando ponto de conexão pública ou comunitária se protegendo nos postes de energia e praças onde é possível pegar sinal.

Com o advento da internet podemos ampliar nosso espaço de conversação, de criar conexões com realidades ainda mais distantes, fazendo as histórias alcançarem pessoas e lugares imagináveis, mas também acessar informações diversas, troca de receitas e outras  utilidades. E para as mulheres populares que a partir dos seus processos tornaram-se conhecidas no “meio do mundo” encontraram principalmente no WhatsApp uma ferramenta de construir fuxicos. A inclusão digital pode nos proporcionar amplitude desse mundo criado a partir de nossas utopias coletivas.

Para as mulheres auto-organizadas veio junto a reflexão e o despertar da centralidade da internet ou a falta desta nas comunidades, trazendo a necessidade da inclusão digital nas nossas pautas de luta, a exemplo da 7ª Marcha das Margaridas[9], em agosto de 2023, que trouxe pela primeira vez um eixo de universalização do acesso à internet e inclusão digital nos cadernos temáticos, material produzido para discussão em preparação da mobilização e da construção da pauta política das margaridas.

A luta pela comunicação e inclusão digital traz pontos importantes para o debate, como a falta de infraestrutura de internet e o papel do Estado na universalização e fiscalização, a importância da proteção dos dados pessoais ou o que podemos chamar de “plataformização” das nossas vidas. Se não existe investimento na universalização da internet não podemos aceitar que uma série de serviços públicos sejam acessados exclusivamente via plataforma digital. A violência de gênero e os vários discursos de ódio também são fatores que têm contribuído para a exclusão ou afastamento de muitas mulheres dos espaços virtuais e até mesmo da vida pública.

Aqui, em primeira pessoa, quero trazer alguns grandes desafios e afirmações: nós mulheres rurais acreditamos que nossa luta precisa ocupar os espaços virtuais produzindo nossos próprios conteúdos; precisamos enfrentar medo de posicionamento nas redes por conta dos discursos de ódio e da misoginia; pautar os governos sobre a inclusão digital como direito à comunicação. A luta pela ocupação do mundo virtual e pela tomada das chamadas tecnologias digitais será problematizada e organizada quando, no presencial, em rodas, em redes,  criarmos as bases da nossa intervenção coletiva.

Alinhavando

Alinhavando este texto, voltamos a costurar e escrever no plural, as três, para uma provocação manifesto: que multipliquemos os fuxicos e nossas tecnologias - feministas, populares, livres - em lutas diárias de resistência contra os projetos de morte e submissão dos nossos corpos-territórios[10]. Formando redes coloridas em resistências feministas contra o domínio e opressão das Big Techs, das plataformas digitais, dos monopólios de mídia e também dos megaempreendimentos minerais, do agronegócio, da indústria bélico-militar e suas tecnologias patriarcais e racistas de dominação, destruição e morte. De fuxico em fuxico, de flor em flor.

Footnotes

Referências

BISPO DOS SANTOS, Antônio. 2023. A terra dá, a terra quer. São Paulo: Ubu Editora.

DUARTE, Constância Lima; NUNES, Isabella Rosado. Escrevivência: a escrita de nós - Reflexões sobre as obras de Conceição Evaristo. Rio de Janeiro: Mina Comunicação e Arte, 2020.

Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2023. Visível e invisível: a vitimização de mulheres no Brasil. Disponível em: <https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2023/03/visiveleinvisivel-2023-relatorio.pdf > Acesso em:27/10/2023.

INTERVOZES. 2023. Quem controla a mídia? Dos velhos oligopólios aos monopólios digitais. São Paulo: Veneta.

INTERVOZES. 2022. Territórios Livres, Tecnologias Livres. Disponível em: http://territorioslivres.online/ 

MMTR-NE. 2018. Cartilha Sistematiação da Escola de educadoras feminista como Tecnologia Social do MMTR-NE.

MONTEIRO ARAÚJO, Gabriela. 2019. Medo nós tem, mas não usa: narrativas feministas rurais do Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste (MMTR-NE). Dissertação de Mestrado (Estudos Disciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo). Salvador.

SALVETTI, Élsio. 2022. "Territórios Livres, Tecnologias Livres: Intervozes, Conaq e MMTR-NE". In: CEAP. Sistematização de práticas metodológicas de formação na Educação Popular em ambiente virtual. Passo Fundo: Saluz, pp. 51-76.

TERRAMAR. 2023. Impactos e danos socioambientais da energia eólica no ambiente marinho-costeiro no Ceará. Disponível em: <https://terramar.org.br/2023/09/01/energia-limpa-tem-impactos-socioambientais/ > Acesso em: 27/10/2023.

Jornal Brasil de Fato. 2023. Paraíba: Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia denuncia riscos dos parques eólicos. Disponível em <https://www.brasildefato.com.br/2022/05/01/paraiba-marcha-pela-vida-das-mulheres-e-pela-agroecologia-denuncia-riscos-dos-parques-eolicos> Acesso em: 26/10/2023

Marcha das Margaridas. 2023. Caderno 14 - Universalização do Acesso à Internet e Inclusão Digital. Disponível em: <https://assets.cut.org.br/system/uploads/ck/distrito-federal/margaridas14.pdf > Acesso em 27/10/2023

Instituto Pacs, 2019. Defender o território-terra e não defender o território-corpo das mulheres é uma incoerência política. Disponível em <https://pacsinstituto.medium.com/defender-o-territ%C3%B3rio-terra-e-n%C… > Acesso em 05/11/2023

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AUTORAS

Iara Moura é uma mulher indígena e cis. Neta de Gonçalinha e Dilurdes, mulheres trabalhadoras rurais expertas em verduras, ervas e benzimentos e também na costura de retalhos e redes de dormir. É graduada e mestra em Comunicação, atua na agenda de direitos humanos com ênfase no direito à comunicação e sua intersecção com a agenda de justiça socioambiental, de combate à tortura, de proteção de defensores e comunicadore/as e os demais direitos. Escreveu o Guia Mídia e Direitos Humanos (Intervozes, 2014) e o livro Vidas Atingidas: histórias coletivas de luta na Baía de Sepetiba (PACS, 2019). Foi Conselheira do Conselho Nacional de Direitos Humanos (2016-2018) onde atuou como relatora da Missão Emergencial sobre os impactos do derramamento de petróleo em comunidades costeiras do Brasil (2020) e coordenou a comissão permanente de liberdade de expressão e comunicação. Nascida em Crateús, cidade rural do interior do Ceará, no Nordeste do Brasil, é de tronco indígena Potyguara. Atualmente é Coordenadora do Intervozes onde, recentemente, coordenou processos de pesquisa, educação popular e incidência sobre mídia e direitos sexuais e reprodutivos e tecnologias e territórios rurais e quilombolas. É relatora da Plataforma Dhesca Brasil.

Olívia Bandeira é uma mulher branca e cis, neta de avó professora por parte de mãe e de família de produtores rurais por parte de pai, mãe de Antônio. Nascida no interior de Minas Gerais, morou em Niterói, no Rio de Janeiro, por 15 anos, e atualmente reside em São Paulo. É jornalista, mestra em Comunicação e doutora em Antropologia Cultural. Militante da Intervozes desde 2009, faz parte atualmente da Coordenação Executiva da organização, onde cuida das áreas de formação, pesquisa e articulação internacional. Pela Intervozes, publicou recentemente o livro "Quem controla a mídia no Brasil? Dos velhos oligopólios aos monopólios digitais" (editora Veneta), organizado com Gyssele Mendes e André Pasti, e o relatório de pesquisa "Vozes Silenciadas O Corpo é Nosso - A cobertura da mídia tradicional e da religiosa sobre os direitos sexuais e reprodutivos, organizado com Mônica Mourão. É pesquisadora do Laboratório de Antropologia da Religião (LAR) da Unicamp e publicou em 2023 o livro "Música gospel: disputas e negociações em torno da identidade evangélica no Brasil" (editora Papéis Selvagens).

Maria Veronica de Santana é mulher cis,  negra, nordestina, mãe de dois filhos e uma filha e Avó de um menino. Neta e filha de agricultores sertanejos. Nascida e criada no sertão de Sergipe, menor estado do Brasil, localizado na região nordeste.  Desde 1990 é Agricultora assentada  agroecológica no sul do mesmo estado.  Educadora popular feminista. Ex Secretária Executiva e  coordenação do Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste. Militante feminista e agroecológica. Atualmente faz  parte da Coordenação estadual do Movimento da Mulher Trabalhadora Rural de Sergipe. Foi uma das coordenadoras do Territórios Livres, Tecnologias Livres, parceria do Intervozes, do MMTR e da Conaq.

[1] O fuxico também já foi usado como ponto de partida para pensar tecnologias digitais comunitárias pela organização feminista MariaLab nesse projeto: https://www.marialab.org/fuxico/

[2] Neologismo, livre-tradução de “expertises”.

[3] Literatura de cordel também conhecida no Brasil como folheto, literatura popular em verso,[1] ou simplesmente cordel,[2] é um gênero literário popular escrito frequentemente em versos, na forma rimada, originado em relatos orais e depois impresso em folhetos. Remonta ao século XVI, quando o Renascimento popularizou a impressão de relatos orais, e mantém-se uma forma literária popular no Brasil. O nome tem origem na forma como tradicionalmente os folhetos eram expostos para venda, pendurados em cordas, cordéis ou barbantes em Portugal.[3] No Nordeste do Brasil o nome foi herdado, mas a tradição do barbante não se perpetuou: o folheto brasileiro pode ou não estar exposto em barbantes. Alguns poemas são ilustrados com xilogravuras, também usadas nas capas (Wikipédia).

[4] Maria Nazaré de Sousa ou Nazaré Flor, como era conhecida, foi uma das fundadoras do Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste. Do assentamento Maceió, em Itapipoca (CE), desempenhou importante papel de liderança e conquistas para a comunidade. Além da militância política, Nazaré foi poeta, cantora, educadora e trabalhadora rural. Faleceu em 2007, vítima de um câncer, mas seu legado é lembrado até hoje no assentamento. As fotos e o livro publicado por ela são parte do acervo da família.

[5]  De alinhavar: verbo

  • 1.ajustar ou coser provisoriamente com pontos largos o que depois deverá ser cosido com ponto miúdo e definitivo; apontoar.
  • 2.traçar os lineamentos gerais de; esboçar, delinear.
     "alinhavou os principais itens do discurso que faria"

[6] O sankofa é um adinkra que simboliza um pássaro que olha para trás, e significa algo parecido com “volte e pegue” ou “voltar para buscá-la”, nos ensinando o valor de aprender com o passado para a construção do presente e do futuro. Os Adinkras são um conjunto de símbolos pertencentes ao povo Ashanti, atualmente localizados principalmente nos países Gana, Burkina Faso e Togo, na África Ocidental, mas também estão presentes em outros lugares do globo, principalmente em consequência dos processos das diásporas africanas. Fonte: https://www.ufmg.br/espacodoconhecimento/tecnologia-ancestral-africana-simbolos-adinkra/

[7]  Maretório: junção da palavra maré com território, é usada desde 2001 e se refere às populações costeiras do Brasil que vivem das marés, dos lagos, dos rios e da pesca.

[8] Ecocídio: termo para se referir a qualquer tipo de dano ambiental que resulte na destruição total ou parcial dos ecossistemas.

[9] A marcha das Margaridas é considerada a maior mobilização coletiva de mulheres da América Latina. Reuniu, em sua 7a edição, mais de cem mil mulheres na capital do Brasil.

[10] Diversas ativistas e pensadoras, partindo de uma mirada decolonial, têm utilizado a categoria corpo-território para localizar de maneira interseccional as relações entre conflitos socioambientais e os corpos indígenas, negros e dissidentes. A guatemalteca e feminista comunitária Lorena Cabnal (2019) afirma que uma das autoras deste artigo transcreveu e traduziu: “Defender o território-terra e não defender o território-corpo das mulheres é uma incoerência política”, ressaltando como se estruturam reciprocamente as violências de ordem colonial e patriarcal e as violências das corporações e de instituições do Estado sobre os territórios. Valeria uma reflexão com mais tempo sobre como esse diálogo corpo-território se dá no contexto da plataformização da vida, da economia de plataformas e seus impactos nos territórios de vida das mulheres e de dissidências de gênero. Fica para um próximo fuxico. Para acessar o texto de Lorena Cabnal: https://pacsinstituto.medium.com/defender-o-territ%C3%B3rio-terra-e-n%C3%A3o-defender-o-territ%C3%B3rio-corpo-das-mulheres-%C3%A9-uma-incoer%C3%AAncia-4ec7621e790b

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